quinta-feira, 29 de julho de 2010

Carta de um amor perdido deixada sobre a escrivaninha

Diante de toda confusão vivida antes de você chegar – sim, parece que separei a vida em antes e depois de você, não que eu tenha deixado de ser eu, mas acrescentei tantas outras coisas que mudei bastante – eu acreditava que ninguém poderia se aproximar do meu mundo. Mas então, veio você. E tudo ficou mais bonito: as cores, os dias, as músicas, as letras. Eu não pensava poder haver felicidade maior, inútil pensar assim, bem sei, encontrar paz e alegria em outra pessoa que não em nós mesmos, mas encontrar isso em você, era uma forma de encontrar em mim também. De certa forma, eu passei a ser você. E eu nunca quis ser ninguém além de eu mesma. Meus conceitos sobre amar caíram por terra, porque eu não conseguia mais pensar estando ao seu lado. Tudo o que eu conseguia era sentir. Era como se um segredo fantástico existisse entre nós. E o que mais queria, era que você nunca fosse embora. O medo que me perseguiu durante meses acabou chegando ao ponto onde estou hoje. Ele me alcançou. E todas as vezes que você segurou minha mão, me puxando para longe dele, não foram o bastante. Ele se alojou entre eu e você. E por mais que tentássemos ignorar a presença dele, sabemos que tudo mudou. Você passou a ser você e eu passei a ser eu. E todas as brigas vieram, seja por motivos grandes ou pequenos, respirar diferente passou a ser ofensa. Agora, aqui estou. Com a casa me sufocando, porque você foi embora, mas tudo que aqui está, me lembra você e tem o seu cheiro. E quando você sai, de alguma maneira, eu espalho coisas minhas pelos cantos da casa e deixo meu perfume alojado em seu travesseiro, para que quando eu for embora, você também possa se lembrar de mim.



*P.s: escrito há três meses.

Cindy F.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Manhã

Levantou-se bem cedo. Faziam cinco e meia da manhã. Decidiu levantar-se cedo por querer ver as fases do dia amanhecendo de sua janela. Não, as grades atrapalharão sua visão. Irá além: calçará um tênis, vestirá um casaco e sairá para caminhar na pista do bosque. Assim poderá aspirar o perfume das plantas ainda molhadas pelo orvalho, ver as flores se abrirem com o dia.

A manhã está calma e silenciosa. É possível até escutar o canto dos pássaros que mais parece uma conversa. O sol luta com as nuvens para conseguir aparecer. Os níveis diferentes de claridade mudam a cada hora.

Depois de caminhar um pouco, senta-se. Tira o casaco. Quer que a luz do sol a cubra por inteiro, quer receber a natureza em seu corpo. Assim, ficará perfumada por esse cheiro levemente sufocante e bom de húmus, esse cheiro de terra perfumada por milhões de folhas e flores esmagadas.

Ela continua parada, sentada, olhando olhando olhando. Ninguém aparece. Um gato passa correndo entre as árvores. Ela está sozinha. Está sozinha e livre. Com toda essa liberdade que ela não sabe usar e que chega a sufocá-la.

O sol se abre mais. A árvore faísca de sol nas folhas. Há uma leve brisa que bagunça os seus cabelos. Mas por quê esse romantismo: que bagunça os seus cabelos? A verdade é essa. Só sei mesmo é sentir.


Cindy F.